Ir para o conteúdo

Frederico V, Eleitor Palatino

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Frederico V & I
Retrato por Gerard van Honthorst, 1634
Rei da Boêmia
Reinado26 de agosto de 1619
a 8 de novembro de 1620
Coroação4 de novembro de 1619
Catedral de São Vito, Praga
Antecessor(a)Fernando II
Sucessor(a)Fernando II
Eleitor Palatino do Reno
Período19 de setembro de 1610
a 23 de fevereiro de 1623
Predecessor(a)Frederico IV
Sucessor(a)Maximiliano I
Dados pessoais
Nascimento26 de agosto de 1596
Amberg, Eleitorado do Palatinado
Morte29 de novembro de 1632 (36 anos)
Mainz, Sacro Império Romano-Germânico
EsposaIsabel da Inglaterra
Descendência
Carlos I Luís, Eleitor Palatino
Isabel, Abadessa de Herford
Ruperto, Duque de Cumberland
Maurício do Palatinado
Luísa Holandina, Abadessa de Maubuisson
Eduardo, Conde Palatino de Simmern
Henriqueta Maria, Princesa da Transilvânia
Sofia, Eleitora de Hanôver
CasaWittelsbach
PaiFrederico IV, Eleitor Palatino
MãeLuísa Juliana de Orange-Nassau
ReligiãoCalvinismo
AssinaturaAssinatura de Frederico V & I

Frederico V (Amberg, 26 de agosto de 1596Mainz, 29 de novembro de 1632) foi eleitor palatino do Reno, rei da Boêmia como Frederico I, entre 1619 e 1620, e líder da União Protestante.[1]

Frederico foi educado dentro da tradição calvinista, tendo passado parte de sua formação na França. Em 1610, sucedeu seu pai, Frederico IV, tanto como eleitor palatino quanto como líder da União Protestante, contando com o príncipe Cristiano de Anhalt como principal conselheiro político. Três anos depois, em 1613, contraiu matrimônio com Isabel da Inglaterra, filha do rei Jaime I, fortalecendo seus vínculos com as potências protestantes europeias.[1] Em 1618, os estados protestantes da Boêmia rebelaram-se contra seu rei católico, o Sacro Imperador Romano Fernando II. Frederico enviou tropas para ajudar os rebeldes, que depuseram Fernando e lhe ofereceram a coroa. Convencido de que contaria com o apoio das potências protestantes alemãs, da Inglaterra e dos Países Baixos, aceitou a oferta e foi coroado em Praga em 4 de novembro de 1619. No entanto, o auxílio internacional esperado não se concretizou. Em 8 de novembro de 1620, as tropas da Liga Católica, comandadas por João T'Serklaes von Tilly, conde de Tilly, derrotaram os boêmios liderados pelo príncipe de Anhalt na Batalha da Montanha Branca, nas imediações de Praga. Frederico fugiu da cidade imediatamente após a derrota, e seu breve reinado lhe valeu o epíteto de Rei de Inverno.[1]

Após a perda do trono boêmio, Frederico refugiou-se em Haia, enquanto suas terras no Palatinado eram ocupadas por tropas espanholas e bávaras. Seus aliados, Pedro Ernesto, conde de Mansfeld, e Cristiano de Brunsvique, mobilizaram forças militares em seu nome na região oeste da Alemanha, mas foram derrotados por von Tilly. Simultaneamente, Fernando II, declarou Frederico proscrito e, em 1623, transferiu sua dignidade eleitoral a Maximiliano I, eleitor da Baviera. Em 1628, o Alto Palatinado foi oficialmente anexado à Baviera. Embora diversos líderes protestantes tenham defendido sua restituição, nenhum esforço resultou em sua reintegração. Frederico permaneceu no exílio em Haia, sustentado por subsídios limitados fornecidos pela República Neerlandesa. Após a vitória de Gustavo II Adolfo da Suécia sobre von Tilly na Batalha de Breitenfeld, em 1631, Frederico uniu-se às forças suecas e participou da invasão da Baviera no ano seguinte. Durante essa campanha, contribuiu para a expulsão de Maximiliano de seu eleitorado. Entretanto, a morte de Gustavo Adolfo na Batalha de Lützen, em 1632, somada ao apoio tardio da Inglaterra e da República Neerlandesa, encerrou qualquer possibilidade de recuperação do trono da Boêmia. Frederico faleceu poucos meses depois, ainda em 1632.[1]

Biografia

[editar | editar código]

Primeiros anos

[editar | editar código]
Retrato de Frederico V
Círculo de Michiel Jansz van Mierevelt, 1613, Mauritshuis

Frederico foi o primogênito de Frederico IV, eleitor palatino, e de Luísa Juliana de Orange-Nassau, filha do príncipe Guilherme de Orange, líder das República Neerlandesa. O Palatinado era um território importante no Sacro Império Romano-Germânico, composta por duas áreas distintas: o Baixo Palatinado, uma zona agrícola fértil entre os rios Mosela e Necar, e o Alto Palatinado, rico em recursos minerais e situado ao norte da Baviera. As duas partes não eram contíguas, sendo separadas pelos territórios de Württemberg e Bamberg. O eleitor ocupava uma posição de alta autoridade no Sacro Império, sendo subordinado apenas ao imperador e tendo o privilégio de participar diretamente na escolha do novo monarca.[2]

Frederico foi criado calvinista e educado nas artes cortesãs e em latim, estudando no Castelo de Sedan com seu tio e na Universidade de Heidelberg, na capital do Baixo Palatinado. Seu pai morreu quando ele tinha quatorze anos, e Frederico assumiu o controle dos territórios aos dezoito. Em 1613, casou-se com Isabel da Inglaterra, filha do rei Jaime I, que o fez Cavaleiro da Ordem da Jarreteira. O casal, que teve treze filhos, desfrutou de um casamento feliz.[3]

Eleitor Palatino e Rei da Boêmia

[editar | editar código]
Retrato de Frederico V, Eleitor Palatino (1596–1632), representado como um imperador romano
Gerard van Honthorst, 1635, National Portrait Gallery

Como eleitor palatino, Frederico foi justo e tolerante, buscando união entre os protestantes. Herdou do pai a liderança da União Protestante, uma aliança para proteger os direitos protestantes no império contra o domínio dos Habsburgos católicos. Em 1618, a Boêmia protestante rebelou-se contra o rei católico Fernando II. Frederico enviou tropas para ajudar os rebeldes, que depuseram Fernando e elegeram Frederico como rei em 1619.[4]

Apesar dos riscos, Frederico aceitou a coroa, buscando fortalecer a causa protestante e conter o poder dos Habsburgos. No entanto, ele recebeu pouco apoio militar. Exigiu apenas a reforma de uma igreja católica em Praga e expulsou os jesuítas, vistos como principais opositores.[3]

Em 1620, a situação se agravou: as potências protestantes não apoiaram a Boêmia, e a União Protestante recusou ajuda militar. O rei Fernando II, apoiado pela Liga Católica e pela Espanha, avançou contra Frederico, que foi derrotado na Batalha da Montanha Branca. Frederico fugiu de Praga, deixando para trás tudo, inclusive as joias da coroa. Por sua curta e infeliz reinado, ficou conhecido como o "Rei de Inverno".[5]

Nos anos seguintes, Frederico viveu exilado, tentando recuperar seus territórios, mas sem sucesso. Morreu em 1632, aos 36 anos, vítima de uma "febre pestilenta".[3]

Historiografia

[editar | editar código]

Os historiadores costumam avaliar o legado de Frederico com severidade, atribuindo à sua teimosia ou falta de prudência o estopim de uma das guerras mais destrutivas da história europeia. Sua derrota completa e a subsequente ocupação do Palatinado pelos espanhóis exigiram uma reação, o que acabou desencadeando o conflito em larga escala. As motivações de Frederico eram complexas: envolviam tanto a defesa do constitucionalismo do Império quanto a proteção do protestantismo, ameaçados pela crescente influência dos Habsburgos na Boêmia. Para alguns, ele simboliza um mártir romântico de uma causa nobre, embora perdida; para outros, foi apenas um líder vaidoso e mal preparado para os desafios de um monarca.[5]

Descendência

[editar | editar código]
O Triunfo da Rainha do Inverno: Alegoria da Justa. A pintura retrata Frederico V, sua esposa Isabel da Inglaterra e seus filhos em uma cena alegórica. A obra enaltece a virtude e a legitimidade da família real exilada após a perda do trono da Boêmia, apresentando Isabel como uma monarca justa e triunfante.

Frederico casou-se com a princesa Isabel da Inglaterra, de quem teve os seguintes filhos:

  1. Frederico Henrique (1614–1629), morreu afogado aos 15 anos
  2. Carlos I Luis (1617–1680), recuperou o título de eleitor palatino que pertencera a seu pai, bem como a maior parte de seus antigos territórios
  3. Isabel (1618–1680), abadessa de Hertford
  4. Ruperto (1619–1682) militar de grande reputação na Guerra Civil Inglesa; foi posteriormente nomeado duque de Cumberland por seu primo, o rei Carlos II da Inglaterra
  5. Maurício (1620–1652) também serviu da Guerra Civil Inglesa; morto num naufrágio enquanto navegava pelas Índias Ocidentais
  6. Luísa Holandina (1622–1709), pintora e abadessa de Maubuisson
  7. Luís (1624–1625), morreu na infância
  8. Eduardo, Conde Palatino de Simmern (1625–1663), casou-se com Ana Gonzaga, com descendência; removido da linha de sucessão aos tronos do Palatinado e da Grã-Bretanha por ter se convertido ao catolicismo
  9. Henriqueta Maria (1626–1651), casou-se com Sigismundo Rákóczi, sem descendência
  10. Filipe Frederico (1627–1650), militar, morreu aos 23 anos
  11. Carlota (1628–1631), morreu na infância
  12. Sofia, Eleitora de Hanôver (1630–1714), herdeira do trono britânico pelo Decreto de Estabelecimento de 1701
  13. Gustavo Adolfo (1632–1641), morreu na infância

Ver também

[editar | editar código]

Referências

  1. a b c d N. Geoffrey Parker. «Frederick V elector Palatine of the Rhine». Encyclopædia Britannica. Consultado em 29 de setembro de 2025 
  2. Clasen, Claus-Peter. "The Palatinate and the Electorate" (chapter 4), in The Palatinate in European History, 1559-1660. Oxford, England: Basil Blackwell, 1963.
  3. a b c Pursell, Brennan. The Winter King: Frederick V of the Palatinate and the Coming of the Thirty Years’ War. Burlington, Vt.: Ashgate, 2003, pp. 67-85.
  4. Parker, Geoffrey. The Thirty Years’ War. 2d ed. New York: Routledge, 1988. The fullest treatment of the political and diplomatic aspects of the entire war, including Frederick’s participation in its opening phase, pp. 35-50.
  5. a b Wedgwood, C. V. The Thirty Years’ War. New York: Methuen, 1982. A classic narrative treatment of the war and Frederick’s early adventure, pp. 45-60

Ligações externas

[editar | editar código]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Frederico V, Eleitor Palatino
Frederico V do Palatinado & I da Boêmia
Casa de Wittelsbach
26 de agosto de 1596 – 29 de novembro de 1632
Precedido por
Fernando II

Rei da Boêmia
26 de agosto de 1619 – 8 de novembro de 1620
Sucedido por
Fernando II
Precedido por
Frederico IV

Eleitor Palatino do Reno
19 de setembro de 1610 – 23 de fevereiro de 1623
Sucedido por
Maximiliano